A vertigem do petróleo – Por Celso Ming

A vertigem do petróleo – Por Celso Ming

As cotações do petróleo vêm zanzando em torno dos níveis mais baixos dos últimos seis anos; entre o fim de novembro e o fechamento desta quarta-feira, os preços do tipo Brent, negociado em Londres, caíram 45,15%, e os do WTI, negociado em Nova York, 35,01%
Depois de uma pequena reação em fevereiro, a tendência é a de que os preços internacionais do petróleo continuem se arrastando. (A alta desta quarta-feira nada teve a ver com as condições de mercado. Teve a ver com as últimas decisões do Federal Reserve – Fed, o banco central dos Estados Unidos. Sobre isso, veja o Confira.)


As cotações do petróleo vêm zanzando em torno dos níveis mais baixos dos últimos seis anos (veja o gráfico). Entre o fim de novembro e o fechamento desta quarta-feira, os preços do tipo Brent, negociado em Londres, caíram 45,15%. E os do WTI, negociado em Nova York, 35,01%.
Nesse período, a aposta de que haveria recuperação dos preços não se cumpriu. Até agora, parecem não ter chegado ao fundo do poço. Todos os dias surgem novos fatores baixistas.

Na semana passada, relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) revelara que, em vez de cair, como pretendia a ação da Opep em novembro, a produção dos Estados Unidos continua aumentando. Já faltam reservatórios para estocagem. Na primeira semana de março, a produção americana bateu seu recorde histórico: 9,4 milhões de barris diários. Na quarta-feira, antes do anúncio do Fed que virou momentaneamente o jogo, as cotações mergulhavam mais de 2%, porque o governo americano informou que os estoques de óleo cru atingiram dia 16 o nível recorde de 458,5 milhões de barris, ou 71,5% da capacidade de tancagem.


A produção de óleo de xisto só não está disparando mais porque as empresas mudaram a estratégia. Mantêm o cronograma das perfurações, mas pararam as operações de fraturamento hidráulico. Trata-se da injeção sob alta pressão de mistura de água, areia e produtos químicos que libera petróleo e gás das formações de xisto.


A qualquer momento, os Estados Unidos podem puxar ainda mais a produção sem necessidade de grandes investimentos adicionais. Esta é uma operação a custos baixos, porque se concentram em despesas financeiras, numa conjuntura em que os juros estão próximos de zero.


A avaliação dos analistas é de que o momento é de redução do consumo: o fim do inverno no Hemisfério Norte vai dispensando combustíveis para aquecimento e começa a parada para manutenção de grande número de refinarias.


Por aí se vê que a Opep não conseguiu desestimular os produtores dos Estados Unidos. O governo Barack Obama, por sua vez, parece ter percebido que a derrubada dos preços produziu mais estragos na economia de alguns de seus inimigos, como Rússia, Venezuela e Irã, do que custosas operações de política externa. Garantir o negócio dos produtores de xisto passou a ter importantes implicações geopolíticas para os Estados Unidos.


Para a Petrobrás, a derrubada dos preços coloca em risco a viabilidade da exploração dos campos do pré-sal, cujo custo admitido de produção oscila em torno dos US$ 50 por barril. Ainda não está claro o impacto das novas condições de mercado para seu plano de negócios. No momento, a prioridade de sua diretoria é apagar os incêndios provocados pela impossibilidade de publicação de um balanço auditado e pelas denúncias de corrupção pela Operação Lava Jato. 


Ficou para depois
Nesta quarta-feira, as cotações do dólar despencaram porque o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) mudou sua política monetária. Há alguns meses, a presidente Janet Yellen avisara que a retirada do termo “paciente” do comunicado seria sinal de que começaria em seguida a retirada de dólares.


Muda, mas nem tanto
Nesta quarta-feira, a expressão-chave foi retirada do texto, mas, em seu lugar, ficou dito que o Fed esperaria por condições melhores, da economia e do mercado de trabalho, para reverter a política anterior, a da injeção de dólares na economia.


Consequências
Ficou entendido que a política que provocará relativa escassez de dólares foi mais uma vez adiada. Aparentemente, Yellen mudou porque a forte valorização do dólar, que vinha se acentuando, começou a derrubar as exportações. É o que explica a baixa acentuada do dólar nesta quarta-feira em relação às outras moedas e a alta das commodities