Açúcar: Encantadores de Serpente - Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado de açúcar em NY fechou a semana com uma alta extremamente convincente com o vencimento março/2015 encerrando o pregão de sexta-feira a 14.34 centavos de dólar por libra-peso, o maior preço visto desde fevereiro deste ano. Na semana, houve apreciação de 81 pontos no março (quase 18 dólares por tonelada) e variações positivas em torno de 15 dólares por tonelada para 2016 e a metade disso para 2017.
Os fundos continuam a comprar o mercado e os volumes negociados batem recorde (veja abaixo). O total da posição comprada por eles é estimada em 105.000 lotes. É importante levar em consideração que boa parte dessa alta se deve aos fundos e à cobertura de posições descobertas, muito embora os fundamentos dão o pano de fundo. Em outras palavras, uma fixação de preço na exportação ao redor de R$ 1.250 por tonelada não pode e não deve ser desprezada pela simples razão que elas são remuneradoras se considerarmos que o custo médio de produção no Centro-Sul (sem depreciação nem custo financeiro) é de R$ 40.0695 por saca posto usina. Outra coisa é que apenas 29% da cana produzida vai para o açúcar de exportação, portanto se a usina fizer um bom trabalho de gestão de risco no açúcar, terá mais folga no etanol e açúcar no mercado interno. Se o mercado continuar a subir, certamente se refletirá nos outros produtos por uma questão de arbitragem. Proteja-se.
O mercado em NY deve ter espaço para subir porque as usinas estão relativamente bem fixadas para o início de safra (veja abaixo). Os fundos observam o fato de que no acumulado do ano, o açúcar ainda amarga uma queda de 7.4% em um ano particularmente conturbado para as commodities agrícolas visto que a única commodity que apresenta variação positiva em 2015 é o cacau com apenas 4.4% de ganho no ano. O café, por exemplo, perde 25% até agora. Os fundos mais focados procuram oportunidades aliadas aos fundamentos, outros apenas olham os gráficos. Para eles o açúcar tem bom potencial ainda para subir principalmente porque há um ano negociava a 16.92 centavos de dólar por libra-peso e o cenário fundamental é mais positivo hoje.
Simples assim.
Há exatamente um mês, quando NY negociava 11.30 centavos de dólar por libra-peso, enviamos por correio eletrônico exclusivamente para nossos clientes, a previsão de preços baseada no nosso modelo que apontava que o mercado de açúcar estava em curva ascendente, com perspectiva de chegar à média de 13.26 centavos de dólar por libra-peso no mês de dezembro. Naquele momento NY negociava o equivalente a R$ 1.004 por tonelada e o preço de 13.26 corresponderia (considerada uma operação de NDF) a R$ 1.200 por tonelada. O mercado subiu acima e mais rápido do que antecipávamos, mas o fechamento de sexta cravou R$ 1.250 por tonelada. Não se apaixone pela sua posição. Na pior das hipóteses, uma combinação de compra de put com trava de câmbio coloca um valor mínimo de fixação em reais para as usinas. Gestores de risco, uni-vos.
Enquanto uns choram outros riem. Um executivo do setor comentava em recente jantar que algumas usinas se lamentavam das estruturas de hedge que fizeram e que dobram o volume das fixações caso o mercado futuro de açúcar chegasse a determinado nível. Pois bem, o mercado atingiu os tais níveis e agora estão todos coçando a cabeça. Caíram na conversa, segundo o mesmo executivo, dos “encantadores de serpente”.
O bom e velho conceito de que não existe almoço de graça foi esquecido por essas usinas quando fizeram estruturas com essa configuração. Se atendiam àquelas necessidades no momento que fecharam as operações, tudo bem. Se destinaram um percentual para elas, tudo bem. O problema reside quando seduzidas por um sentimento de conforto aparente que essa “terceirização” provoca, fizeram a totalidade de seu volume de vendas. A serpente não se encanta pelo som da flauta do encantador, mas pelo cheiro de urina de rato que ele que a faz sair da cesta para procurar sua presa. Nada é de graça, tudo tem um custo e mesmo aquilo que parece ser de graça, já está no pacote. Há apenas três meses, por exemplo, o valor em reais por tonelada (tomando o fechamento de NY vezes o câmbio) chegou a negociar a R$ 830 vis-à-vis o fechamento dessa sexta-feira a R$ 1.250.
O modelo da Archer Consulting apurou que o volume de fixação de preços das usinas até 30 de setembro alcançou o equivalente a 5.758.000 de toneladas de açúcar, ou 22.92% do total estimado de exportação brasileira para o ano safra de 2016/2017 ao preço médio de 12,39 centavos de dólar por libra-peso, equivalentes a R$ 1.020 por tonelada FOB. O valor médio de fixação das usinas é equivalente a 44.45 centavos de real por libra-peso. O dólar médio fixado pelas usinas no período é de 3.5864. Este é o maior percentual de fixação acumulada de açúcar em NY no período por parte das usinas desde que começamos a usar o modelo. Vale observar o volume de contratos futuros de açúcar negociados no mês de setembro foi recorde, chegando a 4.328.729 lotes negociados apenas nos futuros, superando o volume de 4.157.275 contratos negociados em fevereiro do ano passado.
Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting