Poucos são os que se debruçam a calcular as reduções na emissão de carbono, dos últimos anos, patrocinado pela agricultura brasileira.
Alarmam-se os crimes do desmate, dos incêndios florestais e de roças, expõemse os benefícios da agricultura familiar, criminaliza-se a pecuária, inocenta-se os pescadores, numa profusão de incongruências próprias da desinformação daqueles que detêm o poder e espaços de exposição improdutiva.
A falta de conhecimento, ou dificuldade, de penetrar na questão das contribuições na redução das emissões de carbono, leva a maioria dos comentaristas, incluindo-se pseudos-cientistas, a lacramentar sobre o assunto; merecedor de aprofundamento científico e não simplesmente acadêmico.
As premissas mais comentadas, e atacadas, são a elevação absoluta do uso de defensivos e combustíveis utilizados na agricultura, o que, de pronto, sugere a elevação dos índices de emissão de carbono. O desconhecimento, ou a insensatez, de aprofundar-se na questão rasga os avanços da produtividade que, em solo brasileiro são, muitas vezes, superiores em ganhos na comparação de carbono emitido pelos almejados insumos de produção.
Os espaços da agricultura e pecuária, objeto de tanta defenestração, aumentaram insignificantemente frente a evolução da produtividade, isto sem contar a absorção de carbono pelas culturas implantadas.
Qualquer entidade séria, comprova a elevação da produtividade, basta a qualquer interessado pesquisar publicações idôneas sobre o assunto. O problema é que, nem sempre, as boas práticas são divulgadas com a mesma intensidade das poucas mazelas. A superação intencional pelo mal acontece sempre que não se apresenta o contradito lógico do bem.
Os avanços na agricultura brasileira, e seus modos modernos de exploração, são objeto de cobiça por muitos. Então, não é uma prática ruim.
Voltando ao tema do carbono, se no mesmo espaço é possível alcançar produtividades maiores que o normal, a redução da emissão de carbono é proporcional ao ganho, pois que, em situação adversa ocorreria dispêndio de horas máquinas e insumos em quantidades maiores para obter-se o mesmo volume de produção. É clara e notória a redução quando se obtém safras superiores no mesmo espaço, pois que, se o volume de insumos permanece inalterado em função da área, por consequência, o carbono emitido é menor no fator produção. Segundo o IBGE, a área agrícola cresceu 3,3% entre 2016 a 2018, com uma ocupação de 7,6% do território nacional.
Nesse período, as mudanças de cobertura, 16% delas são derivadas da conversão de pastagens para manejo agrícola. Ainda, segundo o Instituto, partindo de 2012, as novas áreas agrícolas vieram da mesma conversão de pastagens, cuja modalidade de exploração representa 53% do aumento da área de plantio no período. Como crescemos também na pecuária, com menos terras, significa que essa atividade teve ganhos de produtividade em menor espaço.
Isso eleva a contribuição na redução das emissões de carbono, em que, antes, áreas pouco aproveitadas, tornaram-se espaços de alta produtividade.
Segundo pesquisas do IPEA, a taxa anual de crescimento da produtividade, no período de 2000 a 2016, apresentou índice de 4,15 para o produto e de 0,95 para
insumos, corroborando com a defesa da redução das emissões de carbono. A FAO projeta um crescimento de 17% para os próximos 7 (sete) anos na América Latina, o que, certamente, os brasileiros terão ganhos muito superiores a essa projeção média.
Nessa corrida de ganhos agrícolas a cana-de-açúcar ficou para trás. Muito esforço deverá ser empreendido para retomar a produtividade e ganhos ao produtor, de forma a salvar o principal programa mundial de substituição de petróleo – nenhuma nação ousou, ou ousará copiá-lo. A substituição pura e simples dos combustíveis fósseis, talvez não seja a grande inovação, ante o desenvolvimento do interior e o aproveitamento de restos agrícolas na produção de energia elétrica, como se vem fazendo com sucesso.
O etanol precisa se renovar pela sua consagrada capacidade de evitar a emissão de carbono, tanto no campo como nas estradas e na sustentabilidade. O devotado carro elétrico é um escape de países que não tem como competir com a agricultura do Hemisfério Sul, especialmente da América Latina, onde o Brasil é o principal player
*Claudio Belodi é diretor da CEPAL. Possui diversos trabalhos publicados e inúmeros artigos em Jornais e Revistas especializadas do setor sucroalcooleiro. Também detem algumas patentes de invenção de equipamentos e processos, dirigidos à produção de açúcar e etanol e outras.