Consultor acredita que região do Cone Sul vai se beneficiar de integração no setor de gás
A América Latina é uma das regiões com maior potencial para atrair investimentos para o mercado de exploração e produção de petróleo e gás, conforme esse capital vai se tornando mais exigente em relação à redução de emissões de carbono e à estabilidade política. A visão é do vice-presidente sênior da S&P Global Commodity Insights, Carlos Pascual.
Considerado um dos maiores especialistas do setor no mundo, o consultor foi diretor de Recursos Energéticos do Departamento de Estado dos Estados Unidos, além de ter atuado como embaixador do país no México e na Ucrânia. Ele está no Brasil esta semana para debates sobre o mercado de energia no Rio e em São Paulo.
Pascual acredita que, com a maior transparência dos dados sobre emissões de poluentes, os investidores podem olhar com mais interesse para a produção em áreas com baixas emissões no Brasil, Guiana e Argentina.
“O monitoramento e a redução de emissões irão cada vez mais entrar na equação do que torna uma produção de petróleo competitiva. Como haverá maior acesso à informação sobre dados ambientais, isso acrescentará mais um ponto a ser considerado, junto com o respeito à lei e o custo de produção. A capacidade de ter baixas emissões vai passar a fazer parte desse pacote que influencia como o dinheiro flui”.
Será importante que esses mercados também olhem com cuidado para as emissões de metano, além do carbono.
Pascual lembra que já existem satélites capazes de fazer essas medições, como um projeto do Fundo de Defesa Ambiental dos Estados Unidos, organização sem fins lucrativos que vai acompanhar a origem das emissões de metano em campos de petróleo e gás em quase todo o mundo.
“Acredito que a América Latina tem uma grande oportunidade para se destacar”, afirma.
Estabilidade política e contratos rentáveis
O consultor avalia que o mais importante para atrair investimentos, independentemente do sistema político, vai ser a confiança no cumprimento das leis e dos contratos. O foco das empresas vai estar em garantir que poderão ter retornos comercialmente viáveis.
E a tendência é ficar mais difícil para países com um ambiente político instável atrair investimentos à medida que o mundo se aproxima do pico da demanda por petróleo.
A S&P prevê que o consumo global de petróleo irá atingir o volume máximo entre 2027 e 2029 e depois parar de crescer, se mantendo estável nesse nível por alguns anos.
“Quando você está fazendo investimentos que têm um tempo de vida de 20 a 30 anos, precisa ter a confiança de que esses investimentos vão se pagar. Não serão feitos muitos investimentos, então é necessário ter a confiança de que os poucos que ocorrerem sejam rentáveis”, explica o VP.
Para ele, o Brasil demonstrou ser um bom exemplo nesse sentido depois das alterações nas regras do setor a partir de 2017, como a flexibilização nas regras dos contratos de partilha para atrair empresas privadas e o relaxamento das exigências de conteúdo local.
Já na Argentina, que passa por reformas, uma diferença será a forma como o governo argentino respeitará os contratos, além de lidar com a resolução de eventuais arbitragens.
“O que começamos a ver é que as empresas estão dispostas a abrir seus olhos aos potenciais investimentos na Argentina, devido às atitudes que o governo agora está tomando, como as medidas que permitirão a repatriação de lucros para seus países”, observa.
Integração regional no gás é uma oportunidade
Maior integração dos mercados de gás do Cone Sul, incluindo Brasil, Bolívia, Argentina e Chile também abre uma janela de oportunidade para a região.
“As oportunidades neste tema são enormes, com retornos econômicos e ambientais tremendos”, defende Pascual.
Ele enxerga potencial não apenas para a integração por meio de gasodutos, mas também com exportações de gás natural liquefeito (GNL) da Argentina para o Brasil no futuro, por exemplo.
Uma eventual ampliação da conexão entre os mercados do Cone Sul seria importante em um momento em que as mudanças climáticas afetam a geração de energia nas usinas hidrelétricas e a região precisa de fontes flexíveis para compensar a intermitência da geração eólica e solar.
Desse modo, a integração regional ajudaria a otimizar o uso das fontes renováveis e a ampliar a segurança.
“Isso demanda estudos cuidadosos. Os preços são altos, mas os benefícios poderiam ser enormes para todos os países da região”.
Brasil mostra potencial de unir fósseis e renováveis
Para o consultor, o Brasil deve, inclusive, aproveitar a experiência que tem no tema da integração entre as diferentes fontes de energia na elaboração de propostas e exemplos a serem levados aos fóruns internacionais durante a presidência do G20 este ano e dos BRICS e COP 30 em 2025.
Neste sentido, o Brasil estaria bem posicionado para mostrar como a união entre fósseis e renováveis contribui para um mercado de energia “mais eficiente e confiável”.
“Um tema crítico será trazer exemplos de como os países podem encontrar soluções mais efetivas em termos de custo e sustentabilidade, que levem a uma transição para longe dos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que garantem a segurança energética. Ter esses exemplos e mostrar como torná-los comercialmente viáveis será um passo crítico para que decisões se transformem em ações”, aponta.
Epbr