Empresa aposta que preço do açúcar vai para US$ 0,20 centavos a libra-peso
Uma possível ampliação da atual unidade de produção de etanol de milho na Usina Boa Vista (GO) do grupo São Martinho é uma alocação de capital que faz mais sentido do que em aumentar a capacidade de produção de açúcar, afirmou Felipe Vicchiato, diretor financeiro da companhia sucroalcooleira, em teleconferência com analistas.
Vicchiato ressaltou que o projeto de etanol deve começar a gerar retorno neste ano e que também está tendo um bom desempenho operacional.
“O consumo de energia está bastante baixo, está bastante baixo o consumo de vapor, e temos a vantagem competitiva que não precisamos originar biomassa [para gerar energia]”, afirmou.
Segundo ele, o cavaco de madeira, que também serve de matéria-prima para as caldeiras termelétricas, chega a R$ 500 a tonelada em Goiás, e a planta de etanol de milho da empresa teria que comprar 200 mil toneladas de cavaco ao ano se não houvesse a oferta de biomassa da cana na mesma unidade.
“Estamos analisando se podemos dobrar a planta sem depender de cavaco. Se conseguirmos, e assumindo que o cenário de etanol continue construtivo, é possível que tomemos a decisão de dobrar planta. Mas deve ser para o fim do ano”, disse.
Já qualquer aposta em aumentar a capacidade de produção de açúcar está mais distante. “Se os preços do açúcar não se recuperarem, ou seja, se não subirem 20% pelo menos [em relação ao valor atual], é difícil algum projeto se pagar diante da situação da Usina Boa Vista”, afirmou.
A planta localizada em Goiás produz apenas etanol de cana e de milho e, das quatro usinas do grupo, seria a única unidade alvo possível de um investimento em cristalização de açúcar. Muitas empresas do setor colocaram em ação neste ano investimentos em produção de açúcar após elevados preços da commodity no fim do ano passado.
Segundo o executivo, o “problema” de investir em fabricação de açúcar na unidade goiana é o alto valor do investimento e a redução da produção de etanol, que hoje recebe benefício tributário no Estado. A São Martinho é beneficiária do programa Produzir em Goiás até 2032.
“Em termos de alocação de capital, o que é mais lógico seria expansão do etanol de milho”, assegurou.
Depois de iniciar a planta de etanol de milho com prejuízo operacional, no primeiro trimestre da safra atual (2024/25) a unidade teve lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) positivo de R$ 6,1 milhões, embora o Ebit ainda tenha ficado negativo em R$ 3,4 milhões.
A perspectiva da direção da companhia é encerrar o ano com um Ebtida da produção de etanol de milho entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões, seguindo o diretor financeiro. A estimativa baseia-se na redução do custo do milho e no cenário de aumento das vendas de DDG. No segundo trimestre, o custo do milho do etanol produzido, já considerando o cereal ainda em estoque, deve ficar em R$ 51 a saca, disse.
Açúcar
Os preços do açúcar deverão começar a encontrar mais suporte daqui para frente e devem passar por um ralí quando começar a se materializar a quebra na parte final da safra do Centro-Sul por causa da seca. A aposta da São Martinho é de que, daqui cerca de 30 a 40 dias, as cotações dos contratos do açúcar demerara com vencimento em março de 2025 comecem a subir para 20 centavos de dólar a libra-peso. Hoje, o contrato para março encerrou a sessão na bolsa de Nova York a 18,66 a libra-peso.
“Quando perceberem que vai ter cana que não vai ser nem colhida, que vai ter que esperar proximo ano para crescer [...], quando os números surgirem, talvez seja o gatilho para os preços recuperarem”, afirmou Felipe Vicchiato, diretor financeiro da São Martinho, em teleconferência hoje com analistas sobre os resultados do primeiro trimestre.
“Quando [vierem] dados de produtividade e de morte súbita [da safra, que entendemos que vai acontecer, o preço [do contrato para março] pode buscar os 20 centavos [de dólar a libra-peso]”, afirmou. Essa alta pode ter efeito também sobre os contratos com vencimentos mais adiante.
Segundo ele, muitas usinas deverão encerrar a moagem da safra antes do esperado (“morte súbita”) porque a cana não conseguiu crescer o suficiente a ponto de estar em bom estado para colheita no tempo ideal. “Quem tem cana de um ano de maturação], o que [e grande parte do setor, está sendo impactado, porque está plantando cana e ela não está brotando”, disse.
Por Camila Souza Ramo
Globo Rural