Brasil continua a receber adubo russo

No início de abril, cargas a caminho dos portos brasileiros somavam quase 600 mil toneladas, diz StoneX

Mesmo depois de quase 50 dias de guerra na Ucrânia, que afetou as exportações de fertilizantes da Rússia, o transporte de adubo para o Brasil continua. Um levantamento da StoneX mostra que, em 4 de abril, havia 600 mil toneladas de fertilizante russo - dos quais, eram 50% de potássio - a caminho dos portos brasileiros. A consultoria elaborou o relatório a partir de consultas a agências marítimas sobre a programação das embarcações.

O volume é significativo, ainda que tenha diminuído em relação ao que estava em deslocamento alguns dias antes. Em 18 março, a programação dos navios informava que 860 mil toneladas de adubo da Rússia estavam no mar rumo ao Brasil, uma redução que indica interrupções no fluxo de transporte.

“Se os navios na ponta de lá estivessem sendo carregados normalmente, esse volume no mínimo se manteria, mas ele recuou”, comenta Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da StoneX. A consultoria fará um novo levantamento apenas no fim deste mês.

As sanções econômicas que o Ocidente impôs à Rússia depois que o país invadiu a Ucrânia, em fevereiro, não proíbem a importação de fertilizante russo, mas o conflito traz dor de cabeça ao segmento em pelo menos duas frentes, de pagamentos e logística. A Rússia é um dos maiores fornecedores globais de adubos.

Entre os dias 20 de março e 13 de abril, seis navios com fertilizante do país atracaram no porto de Santos (SP). O terminal de Paranaguá (PR), a maior porta de entrada de adubos no Brasil, recebeu outras quatro embarcações no período, contendo pouco mais de 100 mil toneladas de nutrientes da Rússia, entre potássio, ureia e MAP.

Chegadas agendadas
Para este mês, a administração da Portos do Paraná espera que mais seis navios com carga russa - entre os que já aguardam na fila para descarregar e aqueles que estão a caminho - entreguem cerca de mais 150 mil toneladas. “O volume [total, não apenas da Rússia] recebido cresceu 26% no primeiro trimestre deste ano”, diz Luiz Fernando Garcia da Silva, diretor presidente da Portos do Paraná, que fez a comparação com o mesmo período de 2021.

O crescimento das importações via portos paranaenses resulta de um movimento de antecipação de compras que começou no fim do ano passado, quando Belarus, outro importante fornecedor de potássio, passou a sofrer sanções econômicas de Estados Unidos e União Europeia.

Com a guerra, o fluxo de transporte está sob a lupa dos agentes, que já esperam que o nó logístico de meados do ano no Brasil, comum no país nessa época, seja ainda pior em 2022. A diferença é que dessa vez, com o atraso de parte das cargas que chegarão pelo mar, os problemas não serão pontuais, acredita Mello.

As atenções estão voltadas agora para os embarques que ocorrem em março e abril, quando o Brasil intensifica as importações para atender a demanda do plantio da safra de verão (2022/23), que começa em setembro. Apesar do cenário desafiador em 2022, Mello afirma que o problema não vai inviabilizar a próxima safra - que, se o clima ajudar, deverá ser “grande”. “Mas é difícil que a área plantada aumente no próximo ciclo”, diz.

A Rússia forneceu 22% das 39 milhões de toneladas de adubos que o Brasil importou no ano passado, em uma lista que tem ureia (nitrogenado), MAP (fosfatado), nitrato de amônio e potássio. Para os dois últimos, a StoneX projeta desabastecimento em 2022.

O nitrato de amônio pode ser substituído por ureia, mas para o potássio os agricultores não têm outra opção. “A situação pode ser neutralizada se houver uso racional no plantio”, avalia Mello. A consultoria acredita que a oferta de potássio ficará entre 25% e 30% abaixo da demanda.

 

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