O setor de transportes produz anualmente oito gigatoneladas (8 bilhões de quilos) de substâncias causadoras do aquecimento global, volume 70 vezes mais alto do que há 30 anos. É responsável por 25% das emissões mundiais de gases de efeito estufa.
Os dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas demonstram ser necessário achar alternativas menos poluentes e mais sustentáveis para a locomoção de pessoas e cargas.
Uma das respostas a esse desafio refere-se aos veículos elétricos. Contudo, a solução não é tão eficaz quanto parece. Explico: 60% da eletricidade produzida em todo o mundo em 2018 foi proveniente de combustíveis fósseis, e outros 18%, de nucleares, segundo revela a Agência Internacional de Energia.
Isso significa que 80% dos carros elétricos consomem indiretamente petróleo ou urânio – muita tecnologia para pouco resultado concreto.
Diante dessas informações, surpreendentes para muitos, os veículos flex brasileiros, uma tecnologia genuinamente nacional, quando abastecidos integralmente com etanol, já são mais sustentáveis e muito menos nocivos à atmosfera do que os movidos a eletricidade gerada por energia fóssil ou nuclear.
Os biocombustíveis são renováveis e menos poluentes do que os advindos do petróleo e do urânio.
Notícia ainda melhor é o desenvolvimento de veículos elétricos movidos por células que transformam um combustível em eletricidade. O processo dá-se por reação química geradora de água nada poluente. E o etanol é o combustível renovável utilizado por essa tecnologia, apresentada em um protótipo durante o lançamento da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), em Brasília, em 2017.
O programa, em pleno vigor desde 26 de dezembro de 2019, deverá gerar investimentos, apenas no segmento de etanol, de R$ 9 bilhões por ano na renovação de canaviais e mais R$ 4 bilhões no aumento da produção de cana-de-açúcar, segundo estimativas do governo federal.
Os produtores de álcool já se movimentam para buscar as certificações para emissão dos créditos de descarbonização na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), conforme prevê o RenovaBio. Vale lembrar que os chamados Cbios poderão ser negociados nas bolsas de valores. Cada um deles equivale a uma tonelada de carbono que deixará de ser lançada na atmosfera.
Na safra 2018/2019, o Brasil quebrou o recorde de produção de etanol, com 33,14 bilhões de litros, 21,7% ou 5,9 bilhões a mais do que no período anterior, segundo a Conab. E temos potencial para ampliar esses volumes, considerando a disponibilidade imensa de terras agricultáveis.
O futuro sustentável dos transportes, cada vez mais próximo e inevitável, passa pelo Brasil e seus canaviais. As soluções, de caráter ambiental e econômico, refletem-se sobretudo no bem-estar da humanidade, como evidenciam estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS): atingir as metas de redução da poluição do ar estabelecidas pelo Acordo de Paris pode salvar 1 milhão de vidas por ano até 2050. Isso não tem preço!
João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro e vice-presidente do conselho de administração da Usina São Martinho