CNA lança Fiagro para financiar pequenos e médios produtores

CNA lança Fiagro para financiar pequenos e médios produtores

O fundo disponibiliza R$ 30 milhões em uma primeira rodada, com um projeto-piloto

De olho nas reclamações de produtores sobre a burocracia e os altos custos no acesso ao crédito rural, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) colocou de pé seu primeiro Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro), com financiamento de microcrédito exclusivo para pequenos e médios agricultores e pecuaristas atendidos pela Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar)

O fundo está disponibilizando R$ 30 milhões nesta primeira rodada, com um projeto-piloto. A intenção é escalar a operação nos próximos anos, disse o coordenador de empreendedorismo e negócios do Instituto CNA, Christiano Nascif.

O CNA Fiagro nasce com uma característica inédita de estimular o microcrédito rural de fonte privada. O ticket médio deverá ser de R$ 100 mil — com piso de R$ 30 mil e teto de R$ 300 mil para as operações — e juros de 15% ao ano, com parcelamento mensal ou na periodicidade escolhida pelo produtor.

O prazo máximo de reembolso é de 12 meses e deverá atender, sobretudo, operações de custeio. Financiamentos para investimentos com retorno em curto prazo também poderão ser feitos, como a instalação de placas fotovoltaicas e equipamentos de irrigação.
“A CNA buscou desenvolver um produto que possa responder tudo para facilitar o acesso ao crédito e tirar os entraves que o produtor informou que atrapalhava a operação, como burocracia, garantias, custos adicionais”, disse Nascif.

Segundo ele, a criação do fundo acompanha a tendência de o setor agropecuário brasileiro ser cada vez mais suprido pelo mercado de crédito privado. “É um fundo bastante acessível e flexível”, disse.

A entidade defende que as taxas de juros são competitivas e o acesso ao crédito é menos custoso e burocrático que no mercado em geral. A CNA mostrou comparações com outras modalidades disponíveis, como o barter nas empresas de insumos e as linhas de custeio subvencionadas do Plano Safra.

Em ambas, com outros itens embutidos, como gastos com cartórios, cobrança de IOF e seguros, as operações são mais caras. O mesmo ocorre na linha CPR BNDES, em que os juros calculados pela CNA oscilam de 15,3% a 16,5% ao ano.

Nenhum outro Fiagro tem juros nesse patamar, segundo Nascif. A CNA é cotista júnior no fundo, responsável pelo aporte de um terço do recurso total. Um investidor, cujo nome não foi revelado, aplicou o restante do valor. Para o futuro, o plano é atrair novos investidores e aumentar o público alcançado pelo crédito.

Neste primeiro ano, o Fiagro está focado em produtores da Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Rondônia, Tocantins e Distrito Federal.
Poderão acessar os recursos produtores que atuam nas cadeias de fruticultura (uva, abacaxi, banana, cacau, limão, laranja, manga, morango, melancia, maçã e maracujá), agricultura anual (soja, milho, mandioca, feijão e trigo), cafeicultura, apicultura, piscicultura e bovinocultura e ovinocaprinocultura de leite e de corte. Ao todo, 200 mil produtores rurais são atendidos pela ATeG atualmente.

Nascif afirmou que o diferencial do fundo é ser mais ágil e menos burocrático que outros instrumentos financeiros disponíveis no mercado. O produtor deve relatar o interesse ao técnico de campo da ATeG, que fará a coleta das informações para gerar um relatório de análise de risco da operação.

O relatório será avaliado pela instituição que faz a gestão do fundo, cujo nome a CNA não revela. Com a documentação validada e o crédito aprovado, o prazo médio de liberação dos recursos é de até  sete dias úteis.

Nascif considera uma vantagem o fato de que o produtor é atendido pelo técnico da assistência, que acompanha sua atividade todo mês e já o conhece. “Isso nos permitiu proporcionar um fundo muito mais limpo, leve e competitivo”, disse. “É um fundo que preza pela parte técnica, não só rentabilidade e ganho financeiro. É baseado nas cadeias com mais produtores assistidos, que fazem parte do programa, e nos Estados onde as cadeias são mais concentradas”, acrescentou o coordenador.

O fundo conta com o aparato operacional e técnico da parte financeira, como securitizadora e empresa de cobrança, e está registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) desde dezembro de 2023. As primeiras operações já foram concretizadas.

 

Globo Rural