Fornecedores da Rússia procuraram empresas da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) para conversas sobre importação de diesel, mas as operações são inviáveis, de acordo com o presidente da Abicom, Sérgio Araújo. As sanções internacionais à Rússia impedem os pagamentos das operações, segundo Araújo.
Para ele, a compra de combustíveis russos pelo Brasil demanda um acordo diplomático que inclua os Estados Unidos, o que é improvável. “Os bancos têm operações que envolvem a economia americana, então seria necessário ter uma espécie de ‘waiver’ [exceção ao cumprimento de uma regra] com o Tesouro americano”, disse.
Esta semana, o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou que há negociações para a compra do diesel produzido na Rússia, país que está sob sanções da Europa e Estados Unidos depois de invadir a Ucrânia. O objetivo seria reduzir os preços de combustíveis no país e evitar eventuais desabastecimentos. Há temores de escassez de diesel no mercado internacional.
De acordo com um relatório da consultoria S&P Global Commodity Insights, um acordo para a compra de diesel da Rússia pelo Brasil teria que incluir um desconto nos preços significativo para compensar a pressão política ocidental contra a decisão. A consultoria afirma que esse movimento faz sentido para poucos países latino americanos, além dos tradicionais aliados da Rússia na região, como Cuba, Nicarágua e Venezuela.
Uma fonte ouvida pela S&P no setor de trading de combustíveis também confirmou que haveria problemas para que o Brasil pagasse pelas cargas. “Como pagar se os bancos não podem fazer transações com empresas russas?”, disse.
Entretanto, a fonte apontou que o petróleo russo, de fato, é negociado com grandes descontos. O barril russo foi vendido recentemente com um desconto de US$ 36 por barril em relação ao brent, principal cotação internacional para a commodity. A diferença entre a cotação russa e o brent era menor que US$ 5 antes da guerra na Ucrânia.
A S&P Global aponta que a compra do diesel russo poderia reduzir as importações brasileiras das cargas mais caras provenientes dos Estados Unidos. O Brasil precisa importar cerca de 25% do volume de diesel consumido no país, pois as refinarias nacionais não conseguem atender toda a demanda. Tradicionalmente, a região do Golfo do México americano supre a maior parte das importações brasileiras.
De acordo a S&P, os Estados Unidos foram responsáveis por entregar de 54% a 71% do total de diesel importado pelo Brasil nos últimos três meses. Nesse mesmo período, o Brasil também comprou o combustível de países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Índia. O Brasil é o segundo maior destino das exportações do Golfo americano, atrás apenas do México.
Valor Econômico