O contrato com vencimento julho/22 no mercado futuro de açúcar em NY terminou o pregão de sexta-feira cotado a 19.10 centavos de dólar por libra-peso, uma variação negativa pequena de apenas 5 pontos, equivalentes a US$ 1.10 por tonelada. O real se desvaloriza contaminado pela deterioração do cenário macro (juros e inflação americanos, lockdown na China, guerra da Rússia e Ucrânia) e as falas dos néscios que se revezam nas estultices que despejam no mercado diuturnamente em suas campanhas eleitorais.
O sofrível desempenho da moagem de cana no Centro-Sul nesse início de safra induz a uma correção das estimativas de produção de boa parte dos analistas, que estavam em torno de 555 milhões de toneladas, mas que agora propendem-se aos 530 milhões de toneladas.
Além da redução no volume de cana, também preocupam os usineiros a redução de área (que migra para outras culturas mais vantajosas, como os grãos) e da produtividade (ATR mais baixa do que o esperado). No entanto, o mercado futuro de açúcar em NY não reage a esse sentimento ainda, seguramente à vista de um exuberante volume de açúcar já fixado para esta safra, ao redor de 20-21 milhões de toneladas.
Na hipótese de uma reação dos preços futuros, ela deverá ocorrer conforme a moagem avança e números mais precisos despontem das unidades produtoras. Enquanto isso, a curva de preços em NY para os três vencimentos que correspondem à safra do Centro-Sul, mostra ligeiro carrego equivalente a 2.50 % ao ano, impelindo os consumidores industriais a protelarem suas compras no limite.
Acrescente-se à passividade do mercado futuro, o admirável desempenho da Índia nesta safra que deve culminar em uma extraordinária exportação próxima aos 10 milhões de toneladas de açúcar, volume impremeditado há apenas 6 meses.
E não é apenas na exportação que o país surpreendeu, também o fez na produção de açúcar (35.5 milhões de toneladas contra 31 no ano passado), na produção de etanol (3.5 bilhões de litros contra 2.4 na última safra) e no consumo interno de açúcar, recuperando-se do ano passado (26.5 milhões de toneladas) e atingindo quase 28 milhões de toneladas este ano.
O mundo, portanto, pelo que se depreende, está bem abastecido de açúcar. O comprometimento comercial das usinas na produção do açúcar que já venderam e fixaram em robusto volume, mas ainda não produziram, deve restringir novas vendas do produto e maximizar a produção de etanol que, apesar da contenção no ajuste de preços da gasolina por parte da Petrobras, hoje com defasagem de inacreditáveis 30%, negociava na sexta-feira a valores equivalentes ao açúcar de NY mais 20 pontos.
Vamos aguardar quanto tempo a Petrobras vai esperar para reajustar o preço dos combustíveis, mesmo após as declarações do presidente da república comparando o excepcional lucro anunciado pela empresa na quarta-feira passada, de “estupro” nos brasileiros, linguagem bem ao nível da elegância inerente de sua excelência. Que a indústria sucroalcooleira se resguarde, pois tanto esse quanto aquele candidato – populistas que são – perpetrarão o ato mencionado pelo presidente contra o setor ao conduzirem essa nefasta política de preços populista na estatal do petróleo.
Tudo caminha para que tenhamos crises após crises independentemente que quem ocupará a cadeira do Planalto em 2023. Sob esse céu com nuvens carregadas, fixar preços do açúcar para a próxima safra (23/24) em reais por tonelada ou em centavos de dólar por libra-peso sem seguro, se mostra tão arriscado quanto entrar numa sala escura de 10 metros quadrados sabendo que lá dentro tem um inupto orangotango à espreita.
Nossa primeira estimativa do volume de fixação das usinas para os açúcares de exportação da safra 2023/24 indica que 17.5% do volume de exportação para aquela safra estão fixadas ao preço médio de 17.26 centavos de dólar por libra-peso sem prêmio de polarização. A fixação corresponde a R$ 2,259 por tonelada FOB Santos, com prêmio de polarização ou 95,09 centavos de reais por libra peso, com polarização.
ARCHER CONSULTING
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