Monitorar a pressão inflacionária e combatê-la é “prioridade zero” na Cosan, um dos maiores conglomerados empresariais do país. Em conversa com analistas ontem sobre os resultados do primeiro trimestre, o presidente Luis Henrique Guimarães disse que o momento é de ter um olho no custo e outro, no repasse de margens.
“Inflação é prioridade zero. É um assunto mundial e parece que veio para ficar por um tempo. A Cosan vai mitigar os efeitos do lado dos custos e acelerar o repasse de margens nos negócios em que o ambiente competitivo permite”, afirmou.
O avanço da inflação e o aumento do custo do capital, conforme Guimarães, já estavam no radar há algum tempo, inclusive quando a companhia decidiu não seguir adiante com a criação de uma joint venture na área de mobilidade com a Porto Seguro.
Em outra frente, a Cosan intensificou as conversas com a liderança sobre os riscos da pressão inflacionária, em particular entre aqueles que não viveram o período de hiperinflação no país, e reforçou a estratégia de compras (“procurement”), em busca de ganhos ou redução de custos.
Nos três primeiros meses do ano, o grupo registrou lucro líquido de R$ 510,2 milhões, com queda de 38,4% na comparação anual. A piora é explicada pelo aumento de quase 95% das despesas financeiras líquidas, em meio à elevação da taxa de juros.
A receita líquida subiu 54,2%, a R$ 34,7 bilhões. O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) cresceu 4,8%, para R$ 2,7 bilhões, sustentado pelo desempenho da Rumo, operadora ferroviária, e da Compass Gás e Energia, dona da Comgás e está a caminho de comprar a Gaspetro.
No trimestre, os resultados da Raízen, que engloba açúcar, etanol e distribuição de combustíveis, vieram abaixo do esperado pelo mercado, mas no consolidado da Cosan foram compensados pelos números de Comgás e Rumo.
Conforme o executivo, a decisão final do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a compra da Gaspetro, distribuidora de gás natural controlada pela Petrobras, pela Compass deve ser conhecida até o fim de julho.
A Compass apresentou ao órgão plano de venda de 12 ativos da Gaspetro e pretende sacramentar os desinvestimentos concomitantemente à consumação da compra da empresa, que é sócia de 19 distribuidoras de gás. “A Cosan sempre indicou que não pretendia ficar com todos os ativos. Escolhemos aqueles que têm mais sinergia e podem trazer retorno ao replicar o modelo da Comgás, mas montamos pacotes [para venda] que pudessem atrair interessados”, disse.
Olhando para a frente, a expectativa para a Compass é de continuar crescendo, com a aquisição da Gaspetro e início de operação do terminal de regaseificação de GNL em São Paulo em 2023.
Na Moove, empresa de lubrificantes, o plano é avançar na internacionalização dos negócios e, potencialmente, comprar ativos na América do Norte e Europa. “Esperamos ter novidades em breve. A companhia está pronta para dar esse passo. Agora, precisa surgir a oportunidade de mercado”, afirmou. “Moove e Compass tiveram crescimento forte nos últimos anos e não vemos desaceleração. Vão continuar crescendo nos ritmos que vêm fazendo”, disse.
Em relação à estratégia de alocação de capital, o comando indicou que a Cosan pode destinar mais recursos para recompra de ações da holding ou da Raízen e da Rumo, à medida que houver oportunidade. “Essa é uma decisão financeira. Temos nossos modelos e vamos comprar à medida que houver oportunidade de retorno atrativo”, disse o diretor financeiro e de relações com investidores Ricardo Lewin, lembrando que, recentemente, a holding comprou papéis da Rumo que estavam em circulação.
Em relação ao ambiente regulatório, frente às eleições deste ano e potencial mudança na Presidência da República, Guimarães disse que não vê riscos para os negócios do grupo. “A eleição parece ser entre o presidente e um ex-presidente, então entre [nomes] de certa forma conhecidos. E a realidade é que estamos em setores em que têm impacto importante na sociedade e são estruturantes para o país.”
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