Lá vem o sol – por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY testemunhou mais um recorde de preços nesta semana, desta vez a 19.92 centavos de dólar por libra-peso, negociado na quinta-feira, o maior nível desde o incêndio ocorrido no terminal da Copersucar, em Santos, em outubro de 2013. Antes disso, nível semelhante foi negociado em dezembro de 2012. Contudo, os valores observados em reais por tonelada atingiram também o maior nível da história, cravando R$ 1,550 por tonelada nesta sexta-feira.
Nova Iorque fechou a 19.70 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento julho/2016 com valorização de mais de 20 dólares por tonelada, que praticamente se repetiu ao longo da curva até o vencimento outubro/2017. Os fundos não-indexados mantem ainda uma posição comprada extremamente alta, acima dos 315,000 contratos, baseada nos negócios efetuados até a última terça-feira. Como o mercado apreciou 70 pontos de terça-feira até o último pregão da semana, é razoável assumir que os fundos estão ainda mais comprados.
Quanto maior a altura mais dolorosa pode ser a queda. Os fundos devem estar esfregando as mãos para embolsar os quase 2 bilhões de dólares que estimamos deva ser o lucro não realizado da posição recorde que equivale a 16 milhões de toneladas de açúcar. Se eles resolveram colocar o dinheiro no bolso podemos ver uma enxurrada de 200-300 pontos de correção.
O padrão de alta recente, em que o mercado oscilou quase 600 pontos (130 dólares por tonelada) entre a mínima de 14.00 e a máxima de 19.92 centavos de dólar por libra-peso nos últimos 60 pregões, representando 42% de valorização, repetiu-se em julho/2011 quando o mercado, no mesmo período de tempo compreendido, valorizou-se mais de 55%, ocasião em que negociou a 31.68 centavos de dólar por libra-peso após a mínima de 20.40 centavos de dólar por libra-peso. Depois desse pico, o mercado realizou fortemente.
O mercado vai precisar de novas notícias que validem e consolidem os níveis atuais. Não podemos esquecer que os mercados de commodities estressam em situações ligadas a oferta e demanda e este parece muito bem ser o caso agora. Os níveis de preço atuais eram esperados para o último trimestre deste ano, refletidos no próximo vencimento que é o março/2017. Como sempre ocorre, o mercado antecipou essa valorização alimentado pelas chuvas que interrompem a moagem, pelo temor de. Centro-Sul não moer o volume que mercado espera (a média das consultorias aponta para 622 milhões de toneladas) e, potencializada pela imensa posição comprada pelos fundos não indexados. Ocorre que a previsão é que o sol volte a brilhar nos canaviais retomando com força a moagem.
Tornamo-nos cegos quando estamos apaixonados. Por isso, é bom usar a razão quando analisarmos os números para que não nos apaixonemos pelo mercado. Quando olhamos a curva do dólar futuro para vencimento a partir de maio/2017, ou seja, já pensando em fixação de preços de açúcar para exportação já para a safra 2017/2018 notamos que os valores médios estão próximos a R$ 1,600-1,650 por tonelada. O custo médio de produção do Centro-Sul, de acordo com o modelo da Archer Consulting, é de R$ 46,68 por saca posto usina, ou seja, equivalentes a 15 centavos de dólar por libra-peso FOB sem custo financeiro. Isso equivale a uma margem de mais de 30% sobre o custo FOB. Rentabilidade dessa magnitude em commodities incentivam maior produção.
Um trader comentou que para a Europa, um preço ao redor de 500 dólares por tonelada seria extremamente atrativo. Isso implica em NY ter um teto de 22 centavos de dólar por libra-peso? O mercado pode subir mais? Sem dúvida que pode, principalmente se listarmos os potenciais fatores que podem estimular esse movimento.
Com uma rentabilidade dessa magnitude, uma sugestão interessante é comprar o put spread de 18/15 centavos de dólar por libra-peso e vender call de 22.50. Dessa forma, se o mercado expirar entre 18 e 22, a usina fixa a mercado; se expirar acima de 22, ela está fixada a 22 centavos de dólar por libra-peso; se expirar abaixo de 18, está fixada a 18 até o limite de 15 centavos de dólar por libra-peso. Se o mercado for abaixo desse nível, ela estará fixada a mercado mais um prêmio de 300 pontos.
Nós já vimos esse filme antes e muito embora os altistas estejam – com razão – bastante animados, do ponto de vista de gestão de risco, é muito prudente que a usina olhe qual o nível de EBITDA que ela objetiva para então estabelecer com prioridade os níveis de preço de exercício que melhor se encaixam na persecução dessa meta.
O mercado deve quebrar os 20 centavos de dólar por libra-peso, mas não dá para ficar aguardando o momento de acertar o olho da mosca voando sem buscar se proteger para que um mínimo de rentabilidade seja garantida ao acionista.
A ICE aumentou a margem a ser depositada na bolsa para garantia das operações. Alguns fundos podem ser forçados a liquidar parcialmente suas posições para se enquadrar ao fluxo de caixa.
Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting