Está terminando o plantio da safra de verão em todo o país.
Capitalizados com dois anos sucessivos de boas colheitas, especialmente em 2020 com preços espetaculares de grãos e de carnes, os produtores rurais profissionais investiram em melhoria de gestão e também fizeram um plantio com alto padrão tecnológico, reduzindo os riscos de perdas ao longo do ano agrícola. Aí estão claros os 3 Cs positivos desse ano: capitalização, controles (gestão) e ciência (tecnologias). E os produtores acrescentaram outros 3 Cs ao plantio de verão, porque o fizeram com: competência, confiança e coragem.
Aumentaram a área plantada e apostaram forte no mercado para 2021, tendo inclusive vendido boa parte das colheitas projetadas para soja e milho, até mesmo para 2022.
No entanto, na atividade rural, os mais velhos sempre se cercam de cuidados para evitar surpresas. E nesse sentido estão olhando os 3 Cs que podem reduzir resultados.
O primeiro é o clima. Ainda é cedo para dizer como será o comportamento dele nessa estação, mas as chuvas andaram atrasando em várias regiões, o que talvez quebre a produtividade da safra de verão e encurte a janela da segunda safra de milho. Nada disso é certo, e, se acontecer, pode trazer preços ainda melhores.
O segundo é o câmbio. Em 2020 colhemos uma boa safra com um dólar mais caro do que plantamos em 2019. E agora estamos plantando com um dólar valorizado, sem a mínima ideia de como estará a moeda durante a comercialização da safra em 2021. Há quem fale num dólar abaixo de 5 reais naquela ocasião. Não é um número favorável, mas isso é incerto. Vale sempre lembrar a famosa frase do Ministro Mário Simonsen: “juro aleija, mas cambio mata”. A conferir.
E o terceiro C de incertezas é a China, nosso maior mercado atual. Demandara’ grãos por mais algum tempo. A dúvida está em como vai se comportar o novo presidente americano Joe Biden em relação ao gigante asiático.
Se as relações comerciais entre os 2 grandes países se acomodarem, pode ocorrer uma diminuição do mercado chinês para nós.
O que se aprende em agricultura é que nunca um ano é igual ao anterior e isso vai gerando uma experiência acumulada que determina o quanto de ‘’barba de molho’’ devemos ter em cada novo plantio. E oxalá estes 3 Cs funcionem favoravelmente para os produtores. Uma soma deles do lado negativo é sempre muito inconveniente.
Há um outro conjunto de 3 Cs para avaliar rapidamente, que é representado por culturas permanentes e semipermanentes: cana de açúcar, café e citricultura, todas super importantes na geração de empregos. A seca ao longo de 2020 afetou a produtividade da cana que, em alguns locais, caiu 10%, o que só não foi pior porque a riqueza em açúcar e os bons preços internacionais compensaram a quebra de produtividade. Mas a má brotação da soqueira pode impactar safras futuras.
E as perspectivas para produtividade de café e laranja ainda são incertas porque a seca e o calor intenso de outubro nas regiões produtoras prejudicaram as floradas, de modo que o clima e o câmbio terão influência para os resultados econômicos do ano que vem.'
Feliz Natal e Próspero Ano Novo a todos os produtores rurais do Brasil.
* Roberto Rodrigues - Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, Embaixador Especial da FAO para as Cooperativas e Titular da Cátedra de Agronegócios da USP.