Cálculo levou em consideração o desempenho de agricultura, pecuária, extrativismo vegetal, pesca, entre outros
Os setores produtivos baseados em recursos biológicos e em biotecnologia cresceram no ano passado, após uma retração em 2022. Calculado pelo Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Produto Interno Bruto da Bioeconomia (PIB-Bio) teve um incremento de 1,03% em 2023 em termos reais. Esse recorte do PIB chegou a R$ 2,7 trilhões, ou a 25,3% do PIB nacional.
O cálculo não está relacionado a setores com produção ambientalmente sustentável, conforme conceito mais conhecido de “bioeconomia”. Na metodologia da FGV, entra no cálculo o desempenho de agricultura, pecuária, extrativismo vegetal, pesca e aquicultura, alimentos e bebidas, celulose e papel, têxteis, biocombustíveis, produtos do fumo, bem como partes das indústrias de vestuário, calçados, madeira, farmoquímicos, borracha e plástico, móveis e energia elétrica.
Em 2023, o destaque foi para os setores de “bioeconomia primária”, que incluem as cadeias de valor da agricultura, pecuária, serviços florestais, pesca e aquicultura. Nesse recorte, o crescimento foi de 5,9%. Apenas a agropecuária, por exemplo, cresceu mais de 15% devido aos ganhos de produção e produtividade.
Cícero Lima, pesquisador do Observatório de Bioeconomia da FGV, observa que “o avanço da biotecnologia, com pesquisa de novos cultivares (sementes) e adaptações às mudanças climáticas, fazem parte da bioeconomia”. “Investimento em pesquisa e inovação se reflete em produtividade e maior produção e crescimento econômico”, diz.
Os demais segmentos do cálculo do PIB-Bio registraram queda em 2023. A mais acentuada foi a do setor de bioenergia, que recuou 15,1%, devido ao impacto da pressão dos custos de produção, afirma o pesquisador. “Embora a produção de cana e moagem tenham batido recordes em 2023, o aumento de custos na cadeia, como insumos e serviços, prejudicou o crescimento de toda a cadeia de produção”.
O segmento também inclui o desempenho das cadeias de biodiesel e de geração de energia elétrica com origem em biomassa, como a partir de cana e lenha.
No segmento de bioindústria — que abrange as indústrias que processam os produtos primários da bioeconomia em produtos de valores agregado e sua cadeia, com forte peso das cadeias de alimentos e bebidas —, o resultado foi negativo em 1,3% no ano. Segundo Lima, “embora o setor industrial de alimentos e bebidas tenha crescido, as margens de distribuição, comércio e serviços ficaram mais caras, o que fez a cadeia toda reduzir em relação a 2022”.
Já o segmento classificado como “indústria com viés biológico”, e que reúne todas as cadeias que têm em seu mix de produção insumos biológicos, teve um recuo de 0,1%. Nesse segmento são incluídos, por exemplo, a indústria de fármacos e medicamentos. Segundo o pesquisador, essa indústria experimentou no ano passado margens de distribuição e comercialização mais favoráveis, o que resultou em um desempenho praticamente equivalente ao do ano anterior.
Segundo Lima, a expectativa para 2024 é de crescimento real. A bioeconomia primária, que registrou avanço no primeiro trimestre, deve desacelerar no restante do ano, conforme comportamento sazonal, enquanto a bioindústria e a indústria com viés-biológico devem acelerar agora “justamente pelo crescimento da demanda interna e recuperação da economia brasileira, mesmo que devagar”, observa.
Globo Rural