A semana foi encurtada pelo feriado nacional nos Estados Unidos (Memorial Day), na segunda-feira. O mercado futuro de açúcar em NY praticamente ficou inalterado em relação à semana anterior. O vencimento julho/20 encerrou a 10.93 centavos de dólar por libra-peso mesmo nível da sexta-feira passada. Já os vencimentos mais longos, provavelmente refletindo a movimentação de fixação por parte dos operadores (usinas?), fechou mais fraco em até 6 dólares por tonelada na semana.
O real surpreendeu e a despeito do clima político pesado encerrou a semana cotado a R$ 5,33 valorizando-se quase 4% em relação à moeda americana.
A tensão entre os EUA e a China deixa o mercado inquieto com enorme efeito negativo nos ativos de risco, em especial os de energia e as softs commodities. O presidente Trump pegou pesado na sexta-feira acusando a China de vários delitos como espionagem industrial e violações de liberdade, como também de “terem roubado os EUA como ninguém havia feito antes”.
O tamanho dessa encrenca nós veremos na semana que vem já que os mercados estavam encerrados quando Trump falou com a imprensa. Para o Brasil, resta torcer para que o nosso inábil Ministro das Relações Exteriores não embarque nessa toada se envolvendo em briga de cachorro grande. A China deve retaliar os EUA de volta afetando enormemente muitas empresas americanas que dependem de fornecimento de partes e peças fabricadas naquele país.
Ainda há muitas dúvidas em relação à extensão que a pandemia causou e ainda deve causar na economia brasileira. As projeções iniciais de uma retração do PIB de 5.5% vão sendo alteradas a cada nova semana e alguns bancos já trabalham com uma contração da economia em torno dos 7%, com viés de baixa. Devem pesar nessa percepção do recrudescimento da queda a piora do quadro político nacional fazendo com que o investidor estrangeiro olhe o País com muita cautela, por insegurança jurídica, que afeta câmbio, aumenta o spread de risco, enxuga o crédito e empurra mais adiante uma eventual retomada da economia. Ou seja, não é apenas a pandemia a protagonista dessa situação de crise, mas a inabilidade política dos nossos governantes.
O volume de açúcar que o Brasil vai exportar nesta safra 2020/2021 (período compreendido entre maio de 2020 até abril de 2021) tem sido um dos assuntos mais comentados entre os operadores de mercado. Já ouvimos números bem robustos acima de 30 milhões de toneladas. Não se pode ficar alheio a essas afirmações, mas a questão é a seguinte: será possível?
Bem, existe uma diferença entre o que é possível e o que é provável. Possível é aquilo que pode acontecer, pois afinal o Brasil possui capacidade logística para escoar essa quantidade de açúcar e também pode produzir açúcar suficiente para atingir esse volume. Resumindo, é possível. Mas, será provável? Provável é aquilo que certamente vai acontecer.
Nos últimos doze meses o Brasil exportou 19.3 milhões de toneladas de açúcar. Para atingir as 30 milhões de toneladas que alguns traders apostam (apostam mesmo!! Jantares, caixas de vinho, etc) teríamos que crescer 10.3 milhões de toneladas de açúcar em doze meses.
Quando conseguimos aumentar as exportações nesse volume em apenas doze meses? Nunca. O máximo que conseguimos incrementar num período de doze meses foi 7.2 milhões de toneladas há quase sete anos. Esqueçamos os números absolutos e vamos para os números relativos. Estamos falando de um aumento percentual de 55%. Nesse caso já houve precedente. Em 2001 as exportações brasileiras (dezembro 2001 x dezembro 2000) cresceram 71%, embora com apenas 4.5 milhões de toneladas de diferença.
Alguns podem achar que o argumento é fraco, ou seja, acreditam numa exportação de 30 milhões de toneladas e ponto final, pois nada impede que as grandes tradings simplesmente façam entregas robustas no vencimento dos contratos futuros de julho e outubro e coloquem para fora todo o excedente a ser produzido. Possível? Sim. Provável? Não.
Qual o recorde de exportação de açúcar pelo Brasil? 29.78 milhões de toneladas em outubro de 2017. É razoável assumir que vamos exportar 30 milhões de toneladas no meio de uma crise mundial com retração do consumo, encolhimento da economia global, queda da renda entre outros fatores? Façam suas apostas. Eu já fiz a minha.
A sétima estimativa da Archer Consulting do volume de fixação de preços dos contratos de exportação das usinas para a safra 2020/2021, até 30 de abril de 2020, revela que 19,2 milhões de toneladas já estavam fixadas. Como revisamos a estimativa de exportação brasileira de açúcar para a safra 2020/2021 para 23,5 milhões de toneladas, podemos dizer que 81.7% do volume estimado de exportação já está precificado, o maior percentual dos últimos cinco anos.
O valor médio das fixações é de 13,11 centavos de dólar por libra-peso ou 56,47 centavos de real por libra-peso (ambos sem pol), equivalente a R$ 1,297 por tonelada FOB Santos (com pol). O dólar médio de abril/20 refletindo a pandemia, a recessão mundial e a crise política provocada pelo governo Bolsonaro, subiu para R$ 5,3270, 8.8% acima da média de março. O preço médio do fechamento de NY em abril foi de 10.05 centavos de dólar por libra-peso, 175 pontos abaixo da média de fevereiro, uma queda expressiva de quase 39 dólares por tonelada no mês
O que ainda nos reserva o ano de 2020 pode começar a aparecer a partir da próxima semana. Qual será a reação chinesa às palavras fortes de Trump é a expectativa de todos os analistas de mercado. Enquanto isso, segundo a imprensa britânica, aumenta a tensão nas fronteiras da Índia com a China, inclusive com movimentação de tropas.
Enquanto isso, no Brasil, de maneira lamentável, vemos o País mergulhado em picuinhas e assuntos menores, sem planejamento, sem reformas, sem perspectiva. Apenas um presidente sem o menor traquejo para a democracia, sem habilidade para a negociação, focado em proteger o seu entorno. Estamos todos a bordo do Titanic, rumando em direção ao iceberg, tendo no comando um Napoleão de hospício. É possível dar certo? É. Mas é provável? Certamente não.