Queda dos CBios já pesa sobre o açúcar em Nova York

Queda dos CBios já pesa sobre o açúcar em Nova York

A queda dos preços dos Créditos de Descarbonização (CBios), gerado a partir da venda de biocombustíveis credenciados no RenovaBio, está contribuindo para “segurar” os preços do açúcar no mercado internacional, uma vez que o ativo ambiental vinha compondo a renda das usinas com as vendas de etanol.

Nas contas da consultoria hEDGEpoint, a queda do CBio na B3 - de R$ 202,65, no fim de junho, para R$ 108,08 na quarta-feira - já representou uma redução da remuneração às usinas sucroalcooleiras equivalente a R$ 0,11 o litro do biocombustível. Como etanol e açúcar “disputam” cana, essa redução equivale a uma queda de 30 pontos sobre os preços do açúcar demerara na bolsa de Nova York.

Os preços dos CBios começaram a derreter após o Comitê RenovaBio decidir, no dia 15, recomendar o adiamento das metas de compras das distribuidoras de 2022 para 2023. O ativo continuou a cair na semana passada e chegou à mínima de R$ 95 na B3 na sexta-feira, quando o governo editou um decreto formalizando a prorrogação.

“São vasos comunicantes. À medida que mexe no mercado de etanol, bate lá em Nova York”, afirmou Alexandre Figliolino, sócio-diretor da MB Agro. Ontem, os contratos mais negociados do açúcar, para outubro, caíram 2,3% na bolsa americana, para 17,47 centavos de dólar a libra-peso, enquanto os mercados de cacau, café a algodão aproveitaram a “calmaria” financeira e subiram.

Incertezas
Além da mudança na regra do RenovaBio, as alterações tributárias sobre combustíveis, que ainda não foram concluídas em todos os Estados, também geraram incertezas. “A comercialização de etanol parou em muitos lugares, ficou difícil saber o novo nível de preço”, disse Figliolino. Segundo ele, as alterações na competitividade do biocombustível e as incertezas criadas após a prorrogação da meta do RenovaBio já contribuíram para paralisar pelo menos um projeto novo de etanol no país.

Apesar do impacto das canetadas de Brasília, o açúcar continua remunerando melhor às usinas. Os preços de açúcar (considerando prêmio de polarização) e os do etanol hidratado em Paulínia (SP) na sexta-feira indicavam que o açúcar oferecia uma vantagem de US$ 0,022 a libra-peso sobre o biocombustível, segundo a hEDGEpoint.

“O preço de equivalência já mostrava uma remuneração maior para o açúcar, e a queda do CBio só reforça isso”, disse Plinio Nastari, presidente da Datagro, à margem do Global Agribusiness Forum (GAF). A consultoria mantém para esta safra estimativa de produção de açúcar no Centro-Sul de 32 milhões de toneladas.

Diante de uma safra de cana que vem decepcionando em produtividade e quantidade de sacarose, as usinas também estão priorizando o açúcar para cumprir contratos já firmados. É o caso da SJC Bioenergia, que tem três usinas, e uma também produz açúcar. “Não temos muita flexibilidade, ainda mais numa safra com clima adverso”, disse Narciso Bertholdi, diretor comercial da SJC.

(Colaboraram José Florentino e Paulo Santos)

 

Valor Econômico