As commodities estão levando uma surra no acumulado do mês de junho. Nesta sexta-feira, o petróleo caiu e o açúcar foi afetado pelo seu movimento de queda, pois petróleo mais barato significa gasolina mais barata e consequentemente etanol perdendo valor e o ágio que apresenta em relação ao açúcar cai e afeta o mix de produção. As coisas nem sempre acontecem nessa sequência na vida real, mas para o mercado a percepção muitas vezes é mais importante do que a realidade. O açúcar, na nossa opinião, reagiu além da conta. Vamos acompanhar.
Grãos estão em baixa, com soja, farelo e milho caindo 11%, 10% e 8% respectivamente. Isso apenas neste mês. Petróleo, açúcar e gasolina despencam 6-7% e café 5%. Como me disse um trader esta semana num evento, “você montou o fundo na hora certa”. Um brinde à ironia.
NY encerrou a sexta-feira ligeiramente acima dos 12 centavos de dólar por libra-peso, representando uma queda em relação à semana anterior. O açúcar está extremamente suscetível aos humores advindos do mercado financeiro. Real mais fraco acelera a fixação de contratos comerciais ainda pendentes para a safra 2018/2019 e pressiona NY já que muitas usinas fixam em reais.
É razoável ponderar que as imensas safras indiana e tailandesa já estão devidamente refletidas no preço negociado em NY. Os fundos liquidaram grande parcela de suas posições vendidas à descoberto (estão com apenas 25.000 lotes ainda) e, portanto, parece-nos que o mercado futuro deverá ter menor pressão de venda a partir de agora.
Dentre os fatores que poderiam afetar negativamente os preços do açúcar em NY se inclui a desvalorização do real frente ao dólar que sofre influência do cenário externo e da indefinição completa acerca da eleição presidencial no Brasil. Se a política de preços da Petrobras for mantida, a desvalorização da moeda brasileira afeta o preço de importação da gasolina e equilibra a arbitragem do etanol com o açúcar, sem risco de mudança do mix. A menos, claro, que o petróleo se mantenha no atual intervalo de preços. Real e petróleo são, portanto, os dois principais componentes que podem pressionar os atuais preços do açúcar em NY.
No contraponto, vemos mais fatores no horizonte que podem impulsionar os preços. A seca nas regiões canavieiras do Centro-Sul será refletida nas moagens de julho e agosto e o pessoal mais ligado às áreas agrícolas das usinas não está nada otimista com as perspectivas. Embora a média das previsões de moagem no Centro-Sul estejam em torno de 584 milhões de toneladas de cana (o número da Archer Consulting é de 563), a percepção agora é de que esse número deverá se encaminhar na faixa de 550 milhões de toneladas de cana. Se isso ocorrer, o impacto nos preços será violento apesar da produção mundial do ano que vem. De novo, para o mercado a percepção muitas vezes é mais importante do que a realidade. E uma redução substancial de cana no Centro-Sul vai assustar.
Mudando para o etanol, o volume do consumo interno de combustíveis ciclo Otto decepciona. Falta dinheiro no bolso do consumidor. No entanto, esse fator faz com que ele dê preferência ao etanol na hora de abastecer pois compra mais litros pela mesma quantidade de dinheiro. Por isso, apesar de números tímidos de consumo total, o hidratado surpreende positivamente e deve ter seus preços negociados para o último trimestre de 2018 em patamares acima dos de hoje. Mas, ainda aqui temos incerteza acerca que quem será o presidente eleito e o efeito que isso vai causar ao câmbio.
Por exemplo, Tarcilo Rodrigues, executivo da BioAgencia, acredita que o preço médio do hidratado com impostos no último trimestre do ano deve ser de R$ 2,4000 por litro. Se o câmbio estiver a R$ 3,7000 isso equivale a açúcar em NY a 16 centavos de dólar por libra-peso. Dólar a R$ 3,4000 ou R$ 4,0000 (para quem acredita que lunáticos da esquerda sejam eleitos), o equivalente em NY seria, respectivamente, 17 e 14,40 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, independentemente de quem for eleito, o valor da paridade etanol/açúcar estaria bem acima do nível de hoje (o março 2019 fechou a 13.06 centavos de dólar por libra-peso).
Claro que a análise é simplista. Tantos outros mais fatores podem e certamente irão influir na trajetória de preços do açúcar. Petróleo, juros americanos, o real e a perspectiva da economia brasileira, como fatores exógenos e, a safra de cana no Centro-Sul para 2019/2020 (que pode ser abaixo de 540) e como se desenvolvem Índia e Tailândia no próximo ano.
Tudo mais posto, continuamos positivos para o açúcar em centavos de dólar por libra-peso no último trimestre deste ano, mas acreditamos que oportunidades de fixação de preços para a safra 2019/2020 na faixa de 1200-1250 reais por tonelada FOB não deveriam ser perdidas.
Soluções para o transporte de cargas no Brasil, segundo Marcos Jank, a) controlar artificialmente o preço do diesel e da gasolina, como ocorreu entre 2006 e 2014, não é solução. O Brasil precisa de uma política transparente de formação de preço de combustíveis que mantenha a correlação com o mercado mundial; b) tabelar o preço dos fretes não é solução para alavancar os transportadores, pois piora a situação do resto da economia, e a renda deles por tabela; c) nos últimos 50 anos não tivemos uma agenda de Estado para infraestrutura de transportes e logística. O Brasil depende demais do transporte rodoviário, movido por combustível fóssil. Não temos alternativas abrangentes disponíveis para um país continental (ferrovias, hidrovias, dutovias) que possam complementar ou substituir a estrutura rodoviária.