A Rumo, empresa de logística do grupo Cosan, assinou na última sexta-feira o contrato de venda de dois terminais no Porto de Santos para a CLI (Corredor Logística e Infraestrutura), empresa controlada pela gestora IG4 Capital. O acordo é de R$ 1,4 bilhão. Serão vendidas 80% das ações do ativos - a Rumo seguirá como acionista minoritária, com 20%.
Os dois terminais vendidos são o T16 e T19, localizados na margem direita do porto e destinados à movimentação de grãos e açúcar. O contrato de arrendamento das duas áreas vai até 2035. As obrigações da concessão ainda incluem a realização de R$ 600 milhões de investimentos, para ampliar a capacidade de movimentação dos ativos em 20%.
Em 2021 (ano afetado pela quebra de safra), os terminais transportaram 12,7 milhões de toneladas. No primeiro trimestre de 2022, foram movimentadas 3 milhões de toneladas.
A conclusão da operação ainda dependerá da aprovação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Hoje, a CLI já opera um terminal de grãos no Porto do Itaqui, no Maranhão. A operadora "bandeira branca" é uma das quatro controladoras do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram) - - as demais são empresas ligadas a tradings de commodities. "Queremos levar os mesmos ganhos de eficiência que implementamos em Itaqui a Santos", afirmou o presidente, Helcio Tokeshi.
A operação também marca a entrada da Macquarie Asset Management na CLI. O grupo australiano passará a ser sócio da IG4 Capital, com 50% de participação na operadora logística. A entrada se dará por meio de um aumento de capital de R$ 500 milhões, que será totalmente subscrito pelo fundo Macquarie Infrastructure Partners V (MIP V).
A Macquarie já havia ensaiado fazer um grande investimento junto à IG4 em 2021, quando fizeram uma oferta pela fatia da Andrade Gutierrez na CCR. A operação, porém, não se concretizou.
"Com essa aquisição, a CLI passa a ser o maior operador independente de infraestrutura e logística portuária para o agronegócio no país", afirma Paulo Mattos, co-fundador da IG4.
Questionado sobre a possibilidade de novas aquisições, Tokeshi disse que a CLI "segue interessada em seguir crescendo". Segundo uma fonte de mercado, a empresa já estaria em negociações com tradings e empresas de logística em outras regiões do país para ampliar a plataforma.
Para a Rumo, a venda é uma forma de garantir a expansão dos terminais portuários em Santos e, ao mesmo tempo, desalavancar a companhia. A empresa terá, nos próximos anos, compromissos bilionários de investimentos em suas ferrovias - como aqueles decorrentes da renovação antecipada da Malha Paulista, da concessão da Norte-Sul e do novo projeto de extensão da Malha Norte, até Lucas do Rio Verde (MT).
"Queremos focar na ferrovia. Temos um plano de investimentos bastante robusto, e usar oportunidades como essa para desalavancar a companhia faz parte de nossa estratégia", afirma Rafael Bergman, vice-presidente financeiro e diretor de relações com investidores da Rumo.
O modelo de operação compartilhada de terminais tem sido um padrão na empresa. Na Norte-Sul (Malha Central), por exemplo, diversos terminais construídos ao longo da ferrovia foram feitos com sócios. No próprio Porto de Santos, a Rumo tem participação minoritária em outros três terminais portuários, que não fazem parte da operação com a CLI: o TXXXIX (de grãos, com a Caramuru), TERMAG (de fertilizantes, com a Bunge) e TGG (de grãos, com Bunge e Amaggi).
Valor Econômico